Dizem que é uma espécie de melhor colégio do mundo… (e arredores, penso eu de que…)
Em Louricalix, o ambiente ainda fumegava um pouco para os lados do Colégio do Dr. Calvário. Habituados ao ambiente conventual da pacata terra, os dirigentes do referido colégio reagiram mal a um simulacro do PREC, protagonizado por uns pais, (meio desvairados na opinião dos referidos dirigentes), que decidiram preocupar-se com o percurso escolar dos seus filhos, tal como tinha sido pedido por Sua Excelência o Senhor Presidente da República, num discurso feito no 25 de Abril… ou talvez no 10 de Junho. Ou seria no 5 de Outubro? No S. Martinho é que não foi, de certeza... No dia de Ano Novo? Talvez. Bom, adiante, isso agora é irrelevante. Para quem não estava habituado a arritmias cardíacas, este simulacro do PREC foi uma espécie de «vai lá vai, que até a barraca abana…».
No ambiente habitual de “cortar à faca” do Colégio do Dr Calvário, um interessante diálogo desenrolava-se na sala da direcção pedagógica:
— Já não há pais como antigamente. Não acha, querida colega?
— Ai filha, não me diga nada. Este ano nem festa de Natal organizaram…
— E o peditório para a Cerci?
— Nós, que tínhamos os melhores pais do mundo e arredores, que organizavam o jantar de Natal, o peditório para a Cerci e ainda participavam na semana cultural com doces e compotas, este ano deu-lhes a maluqueira e começaram para aí a querer discutir o «projecto pedagógico»…
— Como se isso existisse, querida…
— Existisse o quê, filha?
— Então querida, o «projecto pedagógico»…
— Ah, pois claro, sim… quer dizer, concerteza… ou melhor, o que é isso de que eu nunca ouvi falar?
De repente um barulho interrompeu este belo, lindo, magnífico e interessante diálogo.
Truz... truz... truz...
— Quem é? Entre, que a porta está aberta, aliás está sempre aberta para todas as criancinhas..
— Xou eu, o T' Zé Broa
— O que é que a excelência deseja? A sua sorte é este colégio ser inclusivo e não elitista, senão já estava...
— Tão, mas voxa exência não apregou para os pais virem botar faladura quando a coisa está preta?
— Só me faltava mais esta... Diga lá, homem, o que é que quer?
— A'nha cachopa nam pisca nada de matemática, e queixa-se da shódoutoura não lhe conseguir ensinar...
— Era o que mais faltava. Agora um professor ensinar um aluno. O sucesso da escola começa em casa, ouviu homem? Você é que tem de ensinar a sua filha a perceber de matemática, não é o professor. Aliás, quem diz matemática, diz português, física, química, ciência, mecânica, evt, educação física, religião e moral, enfim, tudo...
— Tão, mas eu nam estudei nada, como é que póxo ajudar a catraia? Tem de ser a escola, c'os diabos...
— Já lhe disse que o problema da escola são os pais, que não percebem nada de nada. Depois querem que a escola ensine convenientemente os seus filhos. Como se isso fosse possível nos tempos que correm. Olhe, gaste mas é os tostões que tem debaixo do colchão em explicadores, pode ser que resulte...
— Enam, para isso a cachopa não prexixa de vir à escola. Fica lá a guardar a Clarissa, a vaca leiteira...
— Ó homem, então e depois? O que fazíamos ao pessoal que trabalha nos bares? Despedíamos toda a gente, não era? Os garotos têm de vir à escola, naturalmente, mas é para fazermos notas, não é para aprender.
— Raios t'a pardal, se eu entendo alguma coixa disto...