terça-feira, 27 de novembro de 2007

Patetice

Desculpe intrometer-me nesta história, caro leitor, não quero de maneira nenhuma ser mal-educado ou oportunista, mas aproveito a ausência do narrador, para poder partilhar consigo a minha experiência do sonho, que não é menos fantástica do que a história anterior.
O meu nome é muito conhecido, por ser um dos produtos de sucesso de uma grande empresa americana de desenhos animados, como se dizia no meu tempo. Chamo-me Pateta, sou um cão, de cor amarelada, e tenho sempre o papel de fazer disparates atrás de disparates, porque se descobriu que as pessoas riem mais facilmente com os disparates. Este estilo de vida, parecendo um pouco desvairado ou aberrante, tinha pelo menos a vantagem de não exigir muito de mim, pelo simples facto de não ter nenhumas responsabilidades a assumir. Era uma vida pacata, calma, salpicada aqui e acolá com os desvarios normais da enredo da história, que faziam rir por este mundo fora a garotada e não só. De maneira que tudo seria eternamente constante, sem grandes alterações, se de repente não tivesse existido uma pontinha de ganância para alterar o curso da história. Aliás, é curioso verificar que todas as alterações abruptas da história humana tem como origem a ganância, essa ambição desmedida de conquista de poder. E de uma forma incrível, ou talvez não, essa “doença secular”, penso que podemos chamar-lhe assim, transmitiu-se para a banda desenhada. Pensando melhor, tinha de ser mesmo assim.
Afinal a banda desenhada foi inventada pelos humanos e claro, tem de reflectir todos os seus valores.
Foi assim que eu me vi envolvido na teia da conquista do poder.
Primeiro desconfiado, pois era tudo uma novidade para mim. Depois entusiasmado, fruto da estratégia enganosa, hoje posso falar assim, que me foi oferecida sem eu duvidar minimamente.
Lembro-me de tudo ao pormenor. Era um dia calmo, de sol brilhante, sem nuvens a importunar a beleza do céu azul. Ali estava eu, roendo um osso na falésia, desfrutando de uma paisagem magnifica sobre o mar sereno. Que mais precisava eu além de toda esta tranquilidade? Entretido desta forma nem me lembro de alguém me chamar. Só quando os gritos se tornaram insuportáveis é que me apercebi que era o meu nome que estava na origem de todo aquele alarido.
— Pôxa Pateta, você é cá um distraidão, heim?! — Ouvi eu.
— Oi, Tio Patinhas — disse, surpreso com a aparição meteórica desta personagem, símbolo do vil metal.
— Aca — respondeu Tio Patinhas, que de momento se esqueceu do motivo que o tinha levado ao meu encontro.
Ficámos a olhar um para o outro, eu à espera que ele continuasse, e ele a ver se conseguia lembrar-se da razão de ali estar.
— Ah, já me lembro. Quero que você se arrume direitinho, se ponha charmoso, porque dentro de meia-hora tem de ir comigo a uma reunião muito importante, na sede do PPPP. Rápido, viu?
— PPPP?! — Exclamei, surpreso.
— Sim, PPPP, o Partido Popular da Panela de Pressão. Não conhece, não?
— Não estou vendo não, cara, nem me lembro de nada com esse nome tão esquisito — afirmei com um ar de intrigado.
— Você é mesmo cachorro, né? — Olhou desalentado para mim — Então não se lembra do PPT?
— PPT?! – exclamei ainda mais confuso.
— Sim, PPT, Partido Popular do Tacho.
— Ah, sim senhor, esse conheço, é o partido dos políticos inúteis, cujo símbolo é o esse com dois traços ao alto.
— Viu como já conhece? Então, é isso aí, só que agora alterou-se o nome, para dar mais importância. Estava na altura de melhorar a imagem do partido, e assim promoveu-se o tacho a panela de pressão. Bom, é lá a reunião, toca a despachar que tempo é dinheiro, e não se pode desperdiçar um cêntimo que seja.
Ainda meio atarantado, lá fui para casa aprontar-me, levando o osso comigo.
— O que é isso? Não pense que vai levar esse pestilento osso para a reunião, seu moleque rafeiro. — vociferou Tio Patinhas, muito vermelho.
E lá tive de abandonar o meu melhor amigo.
A viagem foi muito turbo-lenta, pois a condução do Tio Patinhas, após os primeiros cem metros, dava para sentirmos náuseas e vómitos com fartura. Isto para não falar da carripana do velho, cuja fumarada saía por todo o lado menos pelo tubo de escape, bem como da barulheira infernal que se ouvia lá dentro, fruto da viagem ser realizada sempre em primeira, como se o machimbombo não tivesse mais mudanças.
Após estes sobressaltos inesperados, chegámos finalmente à sede do PPPP. Era um edifício discreto, no centro da cidade, cuja fachada em tijoleira vermelha ia mudando lentamente de cor, para negro, devido à poluição e sujidade. O interior era cómodo e mais arejado. Mal entrámos, e após os cumprimentos da praxe, feitos à pressa, fomos logo conduzidos por um amplo corredor até uma sala, onde éramos aguardados por cerca de vinte personalidades, cuja característica comum eram o ar de desespero e ansiedade que brilhava nas suas caras.
— Finalmente. — falou um dos presentes, com um ar sinistro.
— Há qualquer coisa que eu não percebo, — falou outro — fizeram-me esperar este tempo todo por causa de um velho pato caquéctico e de um cão?
— Este velho caquéctico é quem paga a campanha, sua besta, e o cão é o Pateta. E que eu saiba, foi isso que combinámos. Ou já se esqueceu de que precisávamos de um pateta para este trabalho? — berrou Tio Patinhas, com um olhar ameaçador.
O silêncio foi total. Ninguém se atreveu a abrir a boca. Rapidamente se colocaram em volta de uma mesa e deram inicio aos trabalhos.
Já podem imaginar a minha cara de espanto e de terror ao ver-me metido num ambiente destes. Os diálogos eram curtos e objectivos, feitos em voz baixa, de forma a que eu não ouvisse muito bem tudo o que era dito. Mas é óbvio que eles se esqueceram que eu sou um cão, e como tal, a minha audição é excelente. Por isso ouvi a conversa toda.
— Não vale a pena estar sempre a repetir que temos de seguir a estratégia delineada sem uma falha. — falou o Tio Patinhas — Já desperdiçámos imenso tempo e sobretudo muito do meu dinheirinho em coisas que não nos trouxeram vantagens. Por isso, eu peço ao Dr. Nunca que mais uma vez explique detalhadamente todo o processo, e vocês metam dentro do vosso pequeno cérebro, se o tiverem, que isto é para levar a sério, sem asneiras nem peixeiradas.
— Bem, — iniciou a palestra Dr Nunca — como já disse setenta e seis vezes, toda a estratégia do PPPP para ganhar as eleições passam pelas seguintes etapas:
Primeira – arranjar um candidato que não pense, não fale, não tenha ideias, não faça nada socialmente, de que nunca tenha ouvido falar, e que seja ao mesmo tempo simpática, brincalhona com as crianças e com os velhinhos. Com um candidato assim, ninguém nos poderá acusar seja do que for, ninguém poderá dizer mal de nós e a ideia que erradamente muito dos eleitores têm dos partidos, de que tudo isto não passa de um grande cozinhado para todos terem um tacho, pura e simplesmente desaparecerá da mente das pessoas. Refira-se também a mudança de nome e de logotipo do partido, medida que se insere na estratégia de aparecer á frente do eleitorado como um partido novo, com novas ideias, novas pessoas com uma espécie de vontade de trabalhar e de fazer coisas diferentes, embora naturalmente, e convém que isto fique muito bem claro, nós é que continuamos a mandar no partido e o partido serve apenas para “legalmente” atingirmos os nossos objectivos, que são, como sabem, a satisfação dos nossos interesses particulares.
Segunda — Arranjar um programa eleitoral cheio de coisas boas, que os eleitores gostem de ouvir, como por exemplo, garantir empregos e bons ordenados para todos sem trabalhar, excursões diárias para todos os reformados e pensionistas, e já agora, para as criancinhas e para os paizinhos delas, amplas zonas verdes, boas estradas á porta de casa, descontos substancias na mercearia da rua e o direito a beber uns copos por conta do Estado na taberna da esquina, bem alindar todos os largos das capelas existentes. Em off-record, prometer aprovar os projectos imobiliários a todos os patos bravos do sistema, nem que seja em cima do rio, bem como distribuir enormes quantidades de dinheiro a tudo quanto é organização de festas e arrais nas ruas, becos, aldeias e vilas. Toas estas promessas aumentam significativamente a auto-estima dos eleitores, que anda sempre paupérrima, porque na prática nenhum político se preocupa a sério com as pessoas, como já sabem. E assim, deslumbrados com todas estas promessas, os eleitores vão votar em massa no nosso partido. Depois de lá estarmos, outro galo cantará. O nosso, claro está.
— Como vêem, as eleições são para ganhar. — disse Tio Patinhas. — É preciso nunca perder o que eu vou dizer de vista: não se podem dizer as verdades na política. A mentira é o grande trunfo daqueles que querem ser vitoriosos na política. Tem de se enganar o povo. Quanto maior for o engano, mais o povo estará do nosso lado. Ora o que acontece é que, após ganharmos as eleições, não iremos fazer nada daquilo que prometemos. E que desculpa vamos dar? Bom, simplesmente vamos dizer que encontrámos a situação toda de tanga, miserável, que os responsáveis são os governantes anteriores, e á medida que o povo se for apercebendo de que não estamos a cumprir, falamos sempre dos governos anteriores. E como a situação é tão grave, tomaremos medidas drásticas para resolver a crise. Por exemplo, as zonas verdes tem de ser rentabilizadas. Serão urbanizadas, por nós, está claro, algumas passarão mesmo a loteamentos industriais, e quanto mais fábricas existirem, mais nós ganhamos. Não se esqueçam que a qualidade de vida das cidades está na poluição, no metro, na confusão, etc, não é verdade? Senão as pessoas não fugiam cada vez para as cidades. È porque gostam e apreciam viver assim. E as pessoas cada vez mais se concentram nas cidades.
E a conversa continuou pela noite dentro. Eu, encolhido a um canto, assistia a tudo isto de forma serena, questionando-me sobre o motivo de ali estar. A determinada altura ouvi falar no meu nome. E logo a seguir, muitas palmas e vivas. Todos estavam a olhar para mim, sorridentes. Tio Patinhas levou-me para o meio de todos os presentes, e muito solenemente exclamou:
— O Pateta é o nosso melhor candidato. Dificilmente arranjaríamos melhor. Proponho um brinde ao nosso candidato. Viva o Pateta.
— Viva — responderam todos a uma só voz.
Vi-me assim alvo de atenção especial. Nem conseguia articular uma palavra com tudo aquilo que me estava a acontecer. Ser candidato de um partido era um estatuto para todos menos para um Pateta. Mas pelos vistos, estava na moda.
Fui logo avisado de que só podia falar aquilo que eles decidissem. Não podia tomar nenhuma iniciativa sem a sua autorização ou o seu consentimento.
Passei a andar vestido de fato e gravata, o que convenhamos não era tarefa fácil, pois cada vez que andava, pisava sistematicamente a ponta da gravata. Outra coisa horrível para um cão, mesmo da banda desenhada, era o facto de ter de tomar banho todos os dias.
Passava o tempo em chás de caridade, visitava as escolas para oferecer presentes, participava em programas de televisão e rádio e ia para as feiras e mercados beijar peixeiras fedorentas. Tinha que fazer um esforço tremendo de civilidade quando entrava nos talhos, ao ver aquela chicha toda pendurada. Mas o mais estranho foi no dia em que acordei e reparei que toda a cidade tinha cartazes enormes com a minha cara e o símbolo do PPPP em baixo. Parecia que estava metido num enorme jogo de espelhos gigante, pois para onde quer que olhasse dava de caras comigo próprio. A minha cara tinha um olhar simpático e bonito, tal forma terno, que cheguei ao ponto de me sentir muito entusiasmado para votar em mim próprio. O marketing funciona mesmo.
Nesta fase eu andava de certa forma entusiasmado, e cheguei a convencer-me que iria mudar tudo o que estivesse ao meu alcance para melhorar a vida de toda a gente.
E assim foram passando os dias, em ritmo alucinante, rumo ao dia das eleições. Aproximou-se então o dia D, o dia do grande comício/festa, onde iria fazer um enorme discurso, naturalmente escrito pelos patrocinadores da minha candidatura. Nesse dia, todas as atenções estavam viradas para mim, não porque eu fosse um ser especial, mas porque toda a gente tinha medo que eu não desempenhasse o papel que me tinham destinado. Passei horas na sede do PPPP a decorar o discurso que tinham elaborado para mim, e fui massacrado, acho que é o termo correcto, com atitudes a ter no palco durante o discurso, bem como a entoação da voz, as pausas certas no momento certo e sobretudo referir determinados assuntos que toda a gente gosta de ouvir e que sensibiliza os seus corações. Por fim, chegou a hora. Uma multidão inundava o pavilhão das actividades económicas onde se ia desenrolar o comício, com bandeirinhas e cartazes de apoio. A primeira parte do comício foi preenchida por um concerto musical, com um grupo da chamada música pimba. No intervalo interveio o Tio Patinhas, com um discurso de apresentação do candidato, que era nem mais nem menos do que a minha própria pessoa. Foi então que comecei a ouvir ruidosamente o meu nome, “Pateta, Pateta, Pateta”. Muito nervoso, e com o discurso escrito na minha mão direita, encaminhei-me para o centro do palco, sob um enorme aplauso vindo da multidão. Quando me preparava para começar a falar, sem saber como, o meu olhar cruzou-se com o olhar de uma criança. Um olhar terno, doce, de quem acredita que eu seria a pessoa disposta a contribuir para o seu futuro, um futuro de felicidade. Um olhar que é igual numa criança da minha cidade, do Iraque, da América Latina, de Moçambique, sei lá mais onde. Um olhar de esperança. Um sentimento de profunda angústia percorreu o meu espírito, perturbando-me gravemente. Afinal tinha sido inventado para divertir as crianças, e agora estava preparado para as enganar. Lentamente, amachuquei o papel que tinha na mão, olhei firmemente para frente, e em tom sereno resolvi aproveitar a minha única oportunidade para despejar tudo aquilo que me ia na alma. E comecei a discursar:
Caros amigos:
Existem várias razões para muita gente se envolver na política. Mas em primeiro lugar estão sem dúvida os grandes privilégios que a chamada carreira política permite àqueles que a seguem. E a ganância hoje é tão grande entre os políticos para poderem usufruir dos maiores privilégios, que na política abdicou-se à largos anos da integridade de carácter e honradez, sendo estes dois preciosos valores substituídos pela mentira, pela difamação e pela traição. Hoje não vos quero mentir. As crianças não merecem que eu comprometa o seu presente e o seu futuro. Vou falar-vos pelo coração e não vos vou enganar, conforme estava planeado. Todos na política sabem que as eleições só se ganham pela compra da consciência com o dinheiro, muitas vezes sujo, ou pela promessa falsa, pela mentira e pela demagogia. Não irei fazer isso, e possivelmente será o fim da efémera carreira política que me estava destinada. Mas não estou preocupado. A minha consciência não está nem nunca esteve à venda. Ao longo da campanha eleitoral senti-me como se estivesse a navegar no cano do esgoto dos interesses, da ambição e da conveniência. Num dia dizia uma coisa, orientado pelo Marketing, no outro dia negava tudo e prometia o contrário. Embora o discurso fosse pincelado aqui e acolá com novas palavras, o que é certo é que as ideias eram sempre as mesmas. Há largos anos que as ideias são sempre as mesmas, poucas e pequenas, o que demonstra bem o quanto os políticos se estão nas tintas para de facto contribuírem para o desenvolvimento harmonioso todos nós. Só existe uma diferença entre os diversos partidos: a intriga, o grande pilar da luta partidária. E é exactamente por termos este tipo de política, que se pode perfeitamente classificar de política de trampa, que constatamos esta realidade.
O que faz com que este país mantenha orgulhosamente um atraso significativo em relação aos outros países europeus, não é, como na teoria supostamente seria, a localização geográfica, a qualidade da água, o sol, etc, etc, etc. O que nos distingue significativamente dos outros países é uma coisa chamada liderança. Ou seja, os outros países tiveram, nos últimos 50 anos, líderes que sabiam o queriam, tinham projectos, e desenvolveram os seus países para níveis que para nós fazem parte do reino da ficção científica. Nós, nos últimos 50 anos, não tivemos lideres, tivemos apenas tachistas. Fomos liderados por pessoas, que hoje são classificadas como pessoas importantes, apenas e só porque ocuparam lugares importantes. Em vez de projectos e de trabalho, geriram este país como se ele fosse uma mercearia do século XII.
A política, que deveria ser participada por todos os cidadãos, é um negócio de "empresas" com o título pomposo de partidos políticos, cujos principais objectivos são satisfazer os interesses daquilo que hoje é vulgar designar por "lobbie" partidário, ou seja, garantir a todos os "boy's", "girl's", afilhados, afilhadas, padrinhos e todo o tipo de "deliquentes do tacho", presentes e futuros risonhos à custa dos nossos impostos.
— Eh pá, eu nem acredito naquilo que estou a ouvir — disse um homem que estava embasbacado a ouvir Pateta.
— Até que enfim que alguém diz as verdades, caramba — ouviu-se uma mulher de aspecto estranho.
E Pateta continuava:
... A política tem sido apenas a gestão "do tacho para os amigos e compadres". Por isso, continuamos com a Saúde que temos, "doente" há vários anos, mas que mesmo assim dá muita "saúde" a pequenas elites sociais. Continuamos a ter padrões ao nível da Educação que rondam valores aproximados do "zero", mas que sustentam, ao nível privado, pequenas elites sociais. Vejam por exemplo, as riquezas que surgiram ligadas à exploração de colégios privados, sustentados pelo Estado, ou seja por todos nós. Hoje, e em cada dia que passa, vivemos a angústia permanente de ser cidadão, de não saber nada sobre o rumo que o país segue, de não poder programar a nossa vida, porque hoje temos um ministro que pensa assim, no outro dia pensa assado, no outro dia pensa cozido, no outro dia pensa frito, tudo consoante os interesses de "grupo" do momento. O curioso é que, constatando que a vida está cada vez mais difícil para todos os cidadãos, os políticos continuam a ter uma vida "à grande e à francesa", indiferentes às dificuldades de todos nós.
Votar hoje é apenas e só "legalizar" os tachos de deputados, ministros, secretários de estado, assessores disto e daquilo, directores, presidentes de tudo e mais um par de botas, sempre escolhidos de acordo com os interesses do partido e não de todos nós, sempre escolhidos não pelo mérito e competência, mas pelo compadrio e "interesses instalados". Votar significa "legalizar" que cidadãos com problemas com a justiça, sejam deputados para fugirem á própria justiça (lindo exemplo, que contentes que ficamos ao ver os nossos queridos impostos sustentarem charlatões deste calibre), que deputados apresentem baixas médicas para irem trabalhar para empresas do Estado e depois a Lei seja violada para garantir um belo tacho numa embaixada. Eu pergunto: quem tem legitimidade para nos obrigar a cumprir a Lei?
Votar significa "legalizar" que se premeie com cargos públicos, pagos por todos nós, o esforço "desinteressado(!!!)" dos rapazinhos e rapariguinhas que andaram a colar cartazes do partido, sem experiência de vida e maturidade, para terem assim um futuro garantido e o partido poder ficar mais descansado quanto ao aspecto de ter sempre mão de obra barata e disponível.
Sinceramente, não estão cansados de sustentar esta "trampa" toda? É assim a nossa democracia, A DEMOCRACIA DOS TACHOS!... Sabem qual é o partido político com mais futuro? O partido da abstenção. Será porque a populaça é muito ignorante, ou será que tem a ver com a qualidade, honestidade, competência e bons exemplos da classe politica?
— Mas porque será que só os patetas é que dizem as verdades? — perguntou outra pessoas que estava admirada com o discurso de pateta.
... A populaça não serve só para sustentar os políticos e amiguinhos... Quem liquidou a agricultura, desertificou o interior do país e promoveu o caos urbano? Foram os cidadãos tributáveis? Ou foram os políticos, todos sem excepção?
Os partidos políticos são o maior cancro da democracia neste país. Nas eleições, todos os programas são uma mentira. A campanha eleitoral traduz-se na maior festa da hipocrisia social. De repente, os políticos lembram-se da "populaça". Depois de eleitos, nunca mais se lembram do programa, nem se acham obrigados a cumprir, pelo contrário, consideram-se dispensados de tal. Porquê? Porque a partir daí, os nossos democratas esmeram-se a tirar "proveito" do sistema e a colocar os afilhados e afilhadas nos lugares certos, para governarem mais à vontade. Não se iludam. Por detrás desta máquina infernal de propaganda, cheia de falsas promessas, estão meia dúzia de pessoas interessadas apenas em dominar o poder, com o objectivo de concretizar as suas negociatas. Com os nossos recursos, com o nosso dinheiro. Talvez por isso seria bom pensar nisto: não é alternando de partido que se muda seja o que for. Eles são todos iguais, porque no seu intimo todos querem o mesmo: o poder. O que nós temos de mudar é este sistema falso de democracia, em que somos iludidos com as vãs promessas de que somos nós que decidimos, que mandamos. Só há uma solução: não votar, não alimentar este sistema. Assim ele morre por falta de alimento. E é isso que eu vos peço: não votem.
Foi nesta altura que aconteceu algo estranho e inesperado. Ouviu-se um estrondo e todo o palco ficou às escuras. Tinham desligado a energia.
Ao mesmo tempo senti uma pancada fortíssima na cara, seguida instantaneamente de uma forte dor no olho esquerdo, sinal que tinha levado um murro muito forte, que me mandou a rebolar pelo palco fora. E ouvi a voz do Tio Patinhas, em surdina dizer:” Meu moleque safado, se pire da minha vista de vez.”
Toda a multidão se foi afastando aos poucos, e eu fiquei sozinho, aleijado, apenas porque resolvi dizer as verdades...

«Mas, por acaso alguém me pode dizer o que se passa aqui? Por acaso eu autorizei alguém a participar neste projecto literário? Aproveitam-se da minha ausência para se porem aqui a participar sem a minha autorização? Sr Pateta, agradeço que não volte a repetir a gracinha, ainda por cima, eu não tenho intenção de ir contra o sistema vigente, pois nunca se sabe se não precisarei dele. O Senhor foi indelicado e abusou da minha boa vontade. Não tenho e nunca tive intenção de o convidar a participar nesta história, pelo que mais uma vez agradeço o favor de se pôr a andar o mais depressa possível.
Safa, que um tipo até pode ter um ataque ao descobrir intromissões desta natureza.
Bom, adiante. Vamos lá tentar pôr ordem na casa. Apesar deste percalço insignificante, vou tentar criar outra história, mais actual e por isso mais do interesse dos leitores em geral. Não é fácil, não senhor. Vejamos... Ah, já sei, já me lembro do conto que pretendo para continuar este projecto. Vamos lá, mãos à obra.»

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